Pré-Venda do Livro

Como muitos sabem, a história do Gabriel e da Ananda ganhou vida.

Agora, você já pode ter o romance em sua casa, graças à editora NitPress que acreditou em mim e nas minhas palavras.






A pré-venda do livro já foi iniciada e todo mundo pode comprar pela internet e receber, em casa, o impresso autografado.

Clique aqui e vá para o site da livraria.

capítulo 04


Ele

Estávamos espremidos no canto. Ela transpirava tequila e perfume de hortelã. Suas bochechas estavam rosadas de suor. Bochechas que pareciam ser aquelas que já foram religiosamente apertadas por avós e tias. Eu queria morar naquelas bochechas. Vez em quando, ela virava e me olhava. Eu ficava sem jeito e contava algumas coisas engraçadas para disfarçar meu nervosismo e timidez. E ela me sorriu várias respostas positivas naquele desenrolar de um possível novo relacionamento.

 Existem mulheres que gostam de caras altos. Mulheres que gostam de caras baixos. Umas que preferem os loiros. Outras, os morenos. Tem umas que têm quedas por homens ricos. Outras que nem se importam com quanto o cara tem na carteira. Mas se tem algo em que todas as mulheres são iguais – tirando a TPM, é claro – é que todas gostam de caras que as façam sorrir. E acho que eu estava indo bem. Nada forçado. Tudo natural como era entre a gente.

 Quando ela sorria, era como entrar coma alcoólico. Era esquecer toda a minha vida antes de ver aqueles dentes meio amarelados de Gudang Garam, sabor canela. Ela fumava e jogava a fumaça em minha cara. Uma fumaça que parecia um portal para um novo mundo. Era como o cair de uma cortina em frente aos meus olhos. Eu entrei, é lógico. Deixando pra trás, o que eu fui, o que eu era, com quem estive etc. Eu só não sei se foi ela quem me puxou ou se fui eu quem pediu para ser puxado.


Já em seu mundo, ela me sorriu a noite inteira. E sorrisos aproximam as pessoas mais do que o frio no inverno. Ela sorriu e colocou a mão em meu ombro. Ela sorriu e passou – meio rápido, meio devagar – a mão em meu peito. Eu sorri e dei um passo à frente. Eu sorri e envolvi meus braços em tua cintura. E quando notei, as nossas bocas já estavam mais alinhadas do que o trópico de capricórnio. Teatro Mágico ao fundo fazendo a trilha sonora. E então foi só beijá-la e unir o meu país ao dela, a fim de, quem sabe, virarmos um continente paradisíaco.


O beijo é o primeiro sexo que se faz com alguém. É a primeira vez que invadimos o corpo do nosso par. É quando percebemos que o encaixe pode ser perfeito. E a nossa junção, ali, já nos gritou ter sido feito sob medida.

Falando agora, eu acho que consigo até lembrar o gosto.

Ela

Nosso primeiro beijo parecia o quinquagésimo sexto. As bocas sabiam exatamente para que lado ir. Os lábios se tocaram na mesma temperatura e umidade. Nossas línguas dançaram como pares perfeitos de um passo ensaiado há anos. Nossos corpos se encaixaram como peças perfeitas de um quebra-cabeça ou algo assim. Naquele instante, a gente já nem lembrava onde estávamos. Viajamos nas nuvens e nem percebemos. Suas mãos passeavam em meu corpo – ora em minha nuca, ora em minhas coxas. Esqueci completamente que havia outras pessoas ali.

Quando abrimos os olhos, sorrimos e nos beijamos novamente. Nosso beijo foi como uma conversa proveitosa. Dialogamos sobre passado, presente e futuro. Não era um beijo qualquer. Não era um homem qualquer. 

Ele

Ela puxava meu cabelo como quem soubesse que ali era meu ponto fraco. Passeava em minhas costas com a mão por dentro da minha camisa. Não sei o que falava mais: nossos beijos ou os olhares que os intercalavam. Só sei que em um instante, toda a multidão virou pó e as canções do Teatro Mágico eram leves ruídos que nós nem sabíamos de onde vinha.

Lembrar esse momento me causa raiva e conforto. Ainda não sei explicar.

Ele/Ela

Aquele dia, sem dúvida nenhuma, foi um dos melhores da minha vida.

capítulo 03


Ele

Faltavam mais dois minutos para às 20h30. Eu havia prometido a mim mesmo que se ela não ligasse até aquele horário, iria tratar de tirá-la da minha cabeça. Mas, surpreendente que só ela, o telefone tocou aos 45 do segundo tempo da prorrogação. No começo da ligação, disfarcei alguma suposta felicidade e ansiedade por aquele telefonema. Porém, depois de três palavras com ela, naquele tom incrível de dizer “oi” e tudo soar como “eu te amo”, ela me roubou sorrisos eufóricos.

- Eu sabia que você iria ligar - , eu disse, numa falsa prepotência.
- Então é por isso que você atendeu logo no primeiro toque, né? - ela brincou, me vencendo naquele jogo de ironias.


Ela se chama Ananda, falou que significa o sentimento de felicidade suprema. Confesso achei que teu nome combinava perfeitamente com o que eu sentia ao falar com ela. Conversamos um pouco, descobrimos novos segredos e ela falou sobre um show do Teatro Mágico, banda que eu sou fã desde os meus 18 anos, que iria acontecer naquela noite, em uma casa de eventos na Lapa, bairro próximo aos nossos.

- Isso é convite? - disse em um tom sarcástico.
- Não. Isso é flerte para você me convidar - ela respondeu.
- Te encontro em uma hora - finalizei.

Ela

Eu não sabia o que queria. Mas queria vê-lo. Passei meu dia inteiro pensando sobre o que era certo ou errado. Mas queria vê-lo. Queria estar perto dele e esquecer um pouquinho dos meus problemas. Estar com ele, naquele momento, era uma cura para minha cabeça confusa. Eu não sei dançar, mas se ele me pegasse pela mão, eu poderia ser a Ana Botafogo. Era só ele querer.


Ele

Após esperá-la por mais de uma hora, ela cruzou a esquina da Lapa e brilhou como um arco-íris fazendo tudo ao redor ficar preto-e-branco. Meu oftalmologista jura que não, mas eu era daltônico e não sabia. Ela vinha caminhando com sorriso de canto de boca e olhando para o chão, meio envergonhada ainda. Estava com um vestido longo branco, cabelos soltos cobrindo os ombros. Braços nus e dedos com anéis divertidos. Ela estava tão linda que se eu estivesse de blazer e gravata, iria pedi-la em casamento antes mesmo de qualquer saudação inicial. Naqueles poucos segundos, ela já me fez esquecer todos os incontáveis minutos que passei esperando-a chegar.

Ela se aproximou e mordeu meu braço.

- Um beijo é quando você se dá à outra pessoa. Uma mordida é quando você rouba alguém para si -, ela explicou.

Doeu. Mas foi uma estranha surpresa ela querer roubar algo que eu lhe daria de graça.
Entramos, sentamos num bar enquanto o show não começava e conversamos mais um pouco. Ela fazia (e agora deve estar prestes a se formar) faculdade de Psicologia. Queria salvar o mundo através das pessoas. Imaginei que ela seria louca ou chata. Vendo agora, creio que acertei nos dois.

Ela

Após a mordida, eu quebrei o gelo entre nós. Era apenas o nosso segundo encontro – se é que se pode chamar aquilo de encontro. Descobri que estudamos no mesmo colégio quando crianças. Mas, como eu sou cinco anos mais nova do que ele, nunca havíamos nos esbarrado pelos corredores.
Ele é publicitário, o que explicava as tatuagens, a barba mal feita e a paixão por All Star. Teu nome é Gabriel, como se ele fosse um anjo ou algo assim. É inteligente e, para mulheres como eu, inteligência é o maior afrodisíaco do mundo. Não aquela inteligência de saber números complexos ou entender sobre as leis da física quântica. Mas ele me deixava tranquila em falar sobre filósofos e pensadores, mas também tinha uma ironia digna dos fúteis que faz todas as mulheres sorrirem.

Fomos para perto do palco e ele me colocou em sua frente. Sou menor do que ele, mesmo ele não sendo tão alto assim. Entre a multidão, fomos apertados num canto e, quando vi, já estava com a parte de trás da cabeça apoiada em seu peito. Virei para trás e vi aqueles olhos pequenos e negros que pareciam enormes carapuças para mim.

- O que foi? - Ele me perguntou.
- Nada - desconversei.

Mas, então, começou a tocar O Anjo Mais Velho – nossa música predileta. Ficamos frente a frente e começamos a cantar juntos, de mãos dadas como um casalzinho fofinho que aparece nos sites de fofoca ou algo assim. Berrávamos um para o outro: “Só enquanto eu respirar, vou me lembrar de você”. Ingênua que fui, nem percebi que aquilo era um acordo vitalício.

capítulo 02


Ela

Eu tinha acabado de terminar com meu namorado – naquele momento, ex-namorado. Era dezembro, a cidade estava naquela falsa alegria natalina e eu quis andar pelo shopping para me distrair um pouco. Veja, eu não sou má, mas gostar de alguém é mais difícil do que fazer raiz composta de números primos. Meu ex era uma pessoa incrível. Meu melhor amigo desde os meus 12 anos e, sem dúvida nenhuma, a pessoa que mais me ama neste mundo – tirando a minha cadela, que por mais que seja uma filha para mim, ainda não sabe dizer que me ama.

Terminar com alguém que nos traiu, mentiu ou ciumento demais é fácil. Difícil é pôr fim ao relacionamento com alguém que beira a perfeição. O Sol, como eu costumo chamá-lo, é uma das pessoas mais incríveis que já conheci. Mas meu coração já não batia tão forte quando ele chegava perto e, nesse momento, vi que não tinha mais o que fazer.

Sentei numa cafeteria e me afastei da multidão para fugir de desconhecidos. Mas, não sei como, ele estava ao meu lado. Parecia tentar fugir do mundo como eu. E, você sabe, dois fugitivos sempre viram comparsas. Ele sentou atrevidamente ao meu lado e, embora eu quisesse dizer não, ele não me fez perguntas. Então fiquei sem respostas. Mulheres odeiam homens que perguntam demais. Mulheres querem homens que nos dão motivos para aceitar suas questões. E, nesse quesito, naquele momento, ele fez tudo tão certo que nem pode imaginar.


 A conversa fluía como ondas beijando a areia e tocando os pés dos amantes. Ele tem olhos castanhos. Passei a gostar mais do castanho naquele momento. Tem uma boca carnuda capaz de dar inveja em muitas mulheres. Tuas falhas na barba me divertiam tanto quanto teus sarcasmos e ironia. Tudo andava bem enquanto eu me deixava levar. Mas e o meu ex-namorado? Era errado estar ali, falando sobre músicas secretas e planos futuros com alguém que nem sei de onde veio.

Ele pouco me questionou sobre a razão do meu semblante triste. E nem tocou no assunto sobre namorados ou afins. Falamos sobre política, sobre filosofia, sobre Freud, Kant e quando eu vi já estávamos cantarolando Los Hermanos como dois adolescentes fanáticos por “Último Romance”. Naquele momento, eu quis abraçá-lo. Mas pedi outro café forte para tentar acordar meu lado inseguro e pé atrás, figuras que me deixaram sozinha com aquele rapaz estranho.

Ele não era lindo, daqueles caras capas de revista. Era normal e, ao mesmo tempo, especial, sabe? Vestia uma blusa branca que realçava a tua pele morena e uma calça jeans qualquer. Parecia não saber o que era pente já que andava com o cabelo mais bagunçado do que minha gaveta de calcinhas. Tinha tatuagens por todos os lados. E possuía olhos pedintes capazes de me fazer dizer “sim” para qualquer coisa que ele quisesse.
Mas não era assim. Eu sou uma mulher confusa. Não consigo tomar decisões assim, sem anos de estudo, sem ouvir diversas opiniões ou passar noites inteiras refletindo sobre o tema. Não seria de uma hora para a outra que aquele rapaz que nem sei o nome moraria em meu peito. Porém, em apenas duas horas de conversa ele conseguiu me fazer ver mais paisagens bonitas do que meu ex em nove anos de relacionamento.

Então, ele me acarinhou a orelha esquerda, ajeitando meu cabelo. Falou algumas frases do Pessoa e disse que chora na parte em que o casal se encontra de novo em Querido John, naquela cena do aeroporto onde a Amanda Seyfried pula no colo do Channing Tatum. Aí eu pensei: “Como não me apaixonar por ele?”. Assim como quando ele me perguntou: “Cê quer mais um café?” com aquele jeito gasguito de dizer “cê” ao invés de “você” que fez meus olhos brilharem mais do que o sol em dias de Janeiro.


Eu não sei o que mais gostei nele. Nem sei o que eu gostei nele. Naquele primeiro encontro, ele poderia ter me falando tanta coisa romântica e interessante, mas só disse frases engraçadas e irônicas, as quais eu nem lembro direito. Mas não consigo esquecer as gargalhadas que dei.
Eu tinha um número de telefone. Não sabia seu nome. Mas tudo em mim gritava por ele. Entre dúvidas do que era certo ou errado, fiz o que quis. Liguei.



capítulo 01


- Ele.

Sempre andei me escondendo do amor. Fugindo de encontros a dois, de olhinhos nipônicos e de canções dos Los Hermanos. Me escondia atrás deste rosto cansado, de LPs antigos e de meias pretas inseparáveis. Recolhia-me em mim, evitando aquelas festas alternativas, recheadas de meninas com Ray Ban de grau, saias longas e sorrisos largos. Para mim, estava bom ser acompanhado apenas por meus vinhos, meus livros, minhas chateações e meus bonecos decorativos. 

Eu não sabia que dia era aquele, mas estava em cartaz no cinema Les Emotifs Anonymes e nenhuma das minhas amigas cinéfilas estava disponível. Ir ao cinema com algum amigo homem é assinar um termo de homossexualidade e já estou muito velho para usar roupas rosas ou falar fino. Fui sozinho. Levo mais jeito para ser solitário do que ser gay. Então fui sozinho. O filme era bom. Ao meu redor, o amor se engrandecia com aqueles casais que se beijavam e pareciam gritar na minha cara como é bom amar. Mas, no fundo, não é assim, você sabe. Eu sei. Quer dizer, eu sabia.

O amor se engrandece em minha frente com aqueles casais que se beijam e parecem gritar na minha cara como é bom amar.
Deixei a sala escura sem dar a mão à ninguém. Sem perguntar: “Gostou do filme, amor?” ou sem ajeitar minha roupa após aventuras sexuais ao apagar das luzes do cinema. Estava ali. Só. Na velha sensação de poder fazer o que eu quisesse. E mudar de opinião quando eu quisesse também. Fui a um café aproveitar o máximo daquele momento. Pedi um chocolate quente com menta. Não estava frio e não havia ninguém para me avisar isso.



Sentei numa mesa afastada das outras. Não queria muita intromissão, nem olhares, nem qualquer coisa que parecesse um flerte. Mas, quando você se isola, acaba se destacando. Havia um lugar livre ao meu lado e ela chegou como quem foge de um filme dramático, daqueles que o cachorro morre no final. Olhos vermelhos de quem chorou demais e bochechas marcadas como quem dormiu de menos. Pediu um café forte. Se pudesse, seria um café forte, alto, com barba e peito confortável.

Ela usava um vestido listrado em marrom e azul. Um tênis sujo lhe cobria os pés. E, por mais que para qualquer personal stylist aquela roupa fosse despojada e casual, para mim ela estava com a combinação mais luxuosa do mundo. Sem maquiagens ou penteados extravagantes, ela tinha (e tem) seios fartos, um cintura volumosa e um par de coxas que almejam ser grossas. Eu não podia ver, mas eu queria morder aquelas coxas. Devia ter 1, 50 e poucos. Eu só tinha a certeza que ela cabia em meu colo. E não importa quantos quilos ela pesasse, eu já estava certo de que era capaz de carregá-la por onde eu fosse.

Teus olhos eram negros como teus cabelos. Tua boca era vermelha naturalmente. Em tuas orelhas, brincos de pena, daqueles que são vendidos por rastafaris pelas esquinas. Mãos finas e com esmaltes acabados. Punhos recheados de pulseiras estranhas e havia uma tatuagem em teu tornezelo. Estava escrito: “Amor por príncipio. Ética por base e plenitude por fim”, que circulava sua perna direita, logo acima da lingueta do tênis encardido.



Pedi-lhe o açúcar e ela me olhou querendo um abraço. Perguntei se estava tudo bem e, antes mesmo de ela responder qualquer grunhido, falei:

- É claro que não, né?
E sentei ao seu lado.

Éramos dois estranhos, mas tudo estava bem. A afinidade apareceu como borboletas intrusas e bem-vindas. Minhas besteiras. Tuas gargalhadas de canto de boca. Meus olhares românticos. Teus cabelos voando levemente. O som da Gadu. O cheiro de mirra. Confesso que achei engraçado e assustador, quando ela falava de coisas pessoais e eu percebia que, de repente, ela acabava falando de mim também em tuas frases.

Aí ela disse que precisava ir embora. Algo entre o tô-com-medo-de-me-apaixonar e talvez-você-não-seja-quem-eu-preciso-agora. Abaixou a cabeça e deixou o cabelo cair sobre o rosto. Tentava se esconder atrás das mechas negras. Estava com aquele receio de se entregar para alguém com sorriso torto, barba mal feita e tristes histórias sobre relacionamentos mal acabados.

Ela pediu mais um café, mais um trago, mais um cérebro e mais um coração. Disse algo entre estar cansada de depender dos outros e cheia de depender da pessoa errada. O café chegou mais quente ainda. Ela assoprava a caneca como uma criança experimentando mingau pelas bordas. Mas fumava como uma quarentona desesperada. E insistiu em ter que ir embora.

Então eu propus um novo encontro. Um café. Um filme francês. Um chocolate quente. Uma volta no parque. Uma tarde inteira ouvindo reggae. Ou uma noite inteira ouvindo jazz. Qualquer coisa que me fizesse ver aqueles olhos negros novamente.

“Você acredita em destino? Pois é, eu também não.” eu disse, e ela retrucou: “Eu te ligo.”“Mas você nem tem meu número...”, rebati.

E ela começou a gaguejar sobre estar se sentindo sozinha. Mas, por dentro, me analisava como quem está traindo alguém por gostar da minha companhia. Ela falou “tchau”. Eu disse: “tudo bem”. Deu dois passos, olhou para trás e perguntou meu nome. Falei o meu telefone. Ela anotou e sorriu.